O novo coronavírus serviu para nos mostrar que o tempo profissional como moeda perdeu seu valor de mercado.

Em tempos de home office forçado, como andará a cotação da moeda até então considerada por muitos como sendo a mais valiosa do mundo: o tempo?

Profissionais que antes mantinham uma rotina frenética, convivendo com um incessante senso de escassez de tempo diante de tantas atividades diárias, de repente, se encontraram forçados ao isolamento social e a adoção do home office como alternativa à continuidade das atividades. Isso trouxe implicações interessantes ao hábito de consumo do tempo: interrompeu-se o gasto de horas com o trânsito da casa para o trabalho e do trabalho para casa, com a fila do restaurante, com os chás de cadeira entre reuniões e com as distrações inerentes dos corredores de empresas.

Com a privação de hábitos corriqueiros, muitos deles sabotadores de produtividade, diversos profissionais passaram a gozar de algo que há muito não viam em suas agendas: o tempo ocioso. E, assim, num raro momento, profissionais e empresas veem a oferta de tempo se sobrepor à demanda.

Estaria o tempo perdendo valor de mercado?

Eu acredito que o tempo profissional em si sim, e que não é de hoje. O século XXI trouxe uma profunda transformação no mercado de trabalho, ressignificando a forma de valorizar um profissional (que muitas empresas e profissionais insistiram em desdenhar): tem cada vez menos relação com a jornada de oito horas diárias e, sim, com o nível de rendimento e produtividade.

Como diz o estrategista, escritor e palestrante, Tony Robbins, “na vida, você precisa ou de inspiração ou de desespero”. Foi preciso o isolamento social imposto pela quarentena obrigatória para que empresas se abrissem às novas experiências e descobrissem, em meio ao caos, modelos de trabalho que podem servir como nova fonte de talentos.

O fato é que a recessão econômica por coronavírus que está por vir deve acelerar a adesão de conceitos de gestão diferentes dos tradicionais. A maneira pela qual as empresas recompensam os profissionais tende a mudar e o conceito de economia aberta de talentos, desdenhada por muitos, pode se transformar na grande estratégia protagonista do pós-pandemia.

O novo coronavírus serviu para nos mostrar que o tempo profissional como moeda perdeu seu valor de mercado. Quem sabe isso nos poupe de ver gestores temerosos e em busca de artifícios para assegurar que o seu liderado não interrompa a sagrada jornada de horas para curtir um episódio de série no Netflix. A moeda mais valiosa do mercado de trabalho é outra: o comprometimento

Artigo de Fábio Scabeni para o Administradores