Passamos boa parte do dia no trabalho e vivenciamos os altos e baixos o tempo todo
Nas últimas semanas, muito se falou sobre o quiet quitting e, como headhunter, sinto que seria praticamente impossível passar indiferente a este tema. O devido entendimento de conceituação deve ser feito e, em certa medida, não acho tão incompreensível a origem deste movimento.
Numa era na qual o burnout foi incorporado como doença ocupacional, dá para entender muito bem a busca por preservar limites no emprego. Inclusive, o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho é tão natural quanto esperado. Nada pode ser pior para a saúde mental do que um ambiente tóxico, com cobranças desmedidas e uma carga exaustiva de trabalho. Pior ainda quando somam-se a isso outras questões graves, como o assédio, que, infelizmente, sabemos que existe.
Porém, também sabemos que existem ótimas empresas no mercado. Independentemente de porte ou ramo de atuação, há organizações que se preocupam verdadeiramente com os colaboradores e procuram estimular uma cultura interna que valorize a atuação deles, assim como a vida privada de cada um, tendo clareza de como o tempo fora das horas comerciais é fundamental para uma vida plena, produtiva e criativa.
Na função de headhunter, tenho certa dificuldade de acreditar que uma companhia irá recrutar alguém que dê o mínimo de si e não leve em consideração o contexto todo do trabalho e do seu próprio desenvolvimento, a ponto de colocar em cheque a possibilidade de poder contar com essa pessoa quando necessário, podendo, inclusive, prejudicar outros colegas do time. Além disso, as empresas possuem instrumentos de avaliação de desempenho e é a partir dessas avaliações que os profissionais são promovidos e recebem seu bônus por desempenho. Também é importante ressaltar que promoções e bônus são reconhecimentos oferecidos para profissionais que entregam além da média, ou seja, como profissionais que fazem o mínimo estarão aptos para avançar na trilha de carreira se não se abrem para fazer além do seu job description?
Não estou dizendo aqui que é preciso trabalhar horas e horas ou ignorar ambientes insalubres de trabalho. Mas precisamos dar luz a uma perspectiva maior de carreira, de aprendizado e de desenvolvimento profissional que é natural de toda e qualquer carreira.
Minha verdadeira preocupação com o discurso do quiet quitting vai além do ambiente do trabalho pura e simplesmente. Ao colocarmos as coisas em perspectiva e olharmos uma trajetória de carreira, qual grau de satisfação uma pessoa que adota este tipo de postura está tendo com a sua vida profissional?
É claro que estipular combinados e ter clareza das responsabilidades do seu cargo é importante e precisa fazer parte de toda contratação. Mas, até mesmo pelo próprio nome dúbio deste movimento, o discurso vem sendo popularizado de forma a incentivar, de alguma forma, que as pessoas simplesmente ajam com indiferença perante o trabalho que realizam. Isto faz com que eu me questione como essas pessoas pretendem se posicionar em relação à carreira e quais perspectivas elas possuem para si. Você realmente gosta daquilo que faz? Qual impacto pretende gerar? Você ficará feliz ou frustrado com os resultados das suas ações no futuro?
Passamos boa parte do dia no trabalho e vivenciamos os altos e baixos o tempo todo. Há momentos de stress, há momentos de pressão, há problemas que precisam ser resolvidos e estes são os princípios básicos de toda função corporativa, que é recompensada de inúmeras outras formas, seja pelo sentido de propósito, pela remuneração, pelas conexões feitas, pelos aprendizados e experiências que vão sendo acumulados, entre muitos outros.
Construir uma trajetória profissional leva tempo, paciência e dedicação. Como mulher empreendedora, não acredito que fazendo o mínimo será a forma que realizarei minhas conquistas e sonhos profissionais. Obviamente, não espero que todos compartilhem dos mesmos objetivos de vida que eu, mas, se você sequer considera o pensamento de dar o mínimo, talvez seja hora de rever as suas escolhas e buscar novos propósitos na sua carreira.
Por Maria Eduarda Silveira, CEO da consultoria de recrutamento especializado e desenvolvimento organizacional BOLD HRO