
Levantamento mostra que cerca de 60% das organizações brasileiras planejam adotar permanentemente o formato; novo cenário reforça desafios de gestão, produtividade, saúde mental e compliance trabalhista
Mesmo após o fim da pandemia, o modelo híbrido não apenas resistiu como se consolidou como o formato preferencial das empresas brasileiras. Dados da KPMG indicam que 62% das organizações pretendem mantê-lo de forma permanente. Já levantamento da ABRH Brasil mostra que quase metade das empresas (46,2%) já opera com o híbrido em sua rotina.
A tendência, agora firmada para 2026, reacende o debate sobre o retorno total ao presencial — e, sobretudo, sobre os desafios jurídicos e de gestão que a transição estrutural impõe.
Para Fernanda Miranda, sócia da área Trabalhista do Duarte Tonetti Advogados, o modelo híbrido exige uma revisão profunda das práticas internas. “A adoção do formato híbrido demanda readequação de políticas e contratos para garantir clareza nas regras, responsabilidades e entregas. Isso reduz riscos trabalhistas, padroniza práticas e fortalece a segurança jurídica. Também promove alinhamento cultural e transparência, sustentando um ambiente de trabalho mais eficiente e equilibrado”, diz a especialista.
Entre os principais pontos de atenção estão controle de jornada, infraestrutura, ergonomia e saúde ocupacional fora do ambiente corporativo. Fernanda explica que as empresas precisam aplicar o Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) previsto na NR-1, com avaliação dos riscos do trabalho remoto, orientações ergonômicas, registro de treinamentos e comprovação documental. “É recomendável coletar termos de ciência e adesão, registrar a entrega de equipamentos e manter sistemas confiáveis de controle de jornada. Isso garante respaldo legal e segurança ao empregado.”
A ausência de regras claras pode gerar conflitos e ações trabalhistas. Por isso, a formalização do regime híbrido — com política interna, previsão contratual e comunicação transparente — é essencial. “Nesse contexto, o compliance trabalhista torna-se indispensável para assegurar conformidade, prevenir riscos e fortalecer a governança nas relações de trabalho”, explica Fernanda.
Para a advogada, além da legislação, o híbrido desafia empresas a repensarem cultura e liderança. ““Em um cenário de menor presença física, comunicação clara, ausência de ruídos e confiança mútua deixam de ser diferenciais e se tornam pilares para sustentar coesão, engajamento e alta performance.”
Fernanda faz um alerta: a manutenção do modelo nos próximos anos dependerá da maturidade das organizações. Segundo ela, “o híbrido só se sustenta a longo prazo quando há práticas consistentes, alinhamento contínuo e um ambiente em que as pessoas se sintam valorizadas, conectadas e capazes de entregar resultados com autonomia”.
Sobre Fernanda Miranda:
Fernanda é advogada e sócia da área Trabalhista e Sindical do Duarte Tonetti Advogados.
