Especialista alerta que a pressão por atualização constante e metas descontextualizadas podem contribuir para aumento de burnout nas empresas

O estresse no trabalho alcança proporções globais, com 32% dos profissionais relatando se sentir sobrecarregados diariamente, segundo o relatório People at Work 2025, da ADP Research. No Brasil, 86% dos trabalhadores afirmam ter apresentado sintomas de burnout no último ano, aponta a nova edição do Panorama do Bem-Estar Corporativo. Para Clara Cecchini, especialista em aprendizagem e inovação, graduada pela UNICAMP, com MBA pela FGV e formação complementar na Kaospilot e na Schumacher College, na Inglaterra, a forma como as metas são definidas, inclusive aquelas relacionadas ao aprendizado para o novo ano, pode influenciar diretamente esses índices.

“Você não precisa colocar uma meta de aprender tudo sobre inteligência artificial, por exemplo, nem dominar todos os temas em alta, mas, sim, entender para onde quer ir nos próximos tempos e como vai se apropriar desse tema novo. O que faz sentido para você? Em que vai aplicar esse conhecimento?”, explica. Ela observa que muitas pessoas sentem que precisam dominar todos os assuntos emergentes, e embora seja essencial estar informado, é preciso contextualizar o aprendizado e trazê-lo para a prática.

Segundo Clara, o bem-estar se tornou prioridade nas áreas de Recursos Humanos diante do aumento do estresse e do adoecimento no ambiente corporativo. “Aprender é algo positivo, mas, para quem está sob muita pressão, pode se transformar em mais uma fonte de ansiedade, porque tudo acontece muito rápido e parece que é preciso absorver o conteúdo o tempo todo. O importante é se manter em movimento, com a sensação de estar aprendendo. Os desafios diários podem, eles mesmos, ser oportunidades de crescimento”, afirma.

A pressão por atualização constante nem sempre gera desenvolvimento real. As tendências contemporâneas apontam para uma aprendizagem integrada à rotina. A especialista destaca que não se trata de parar tudo para fazer cursos ou ler dezenas de livros, por exemplo, mas de perceber que cada projeto, cada interação e até cada erro trazem lições valiosas, desde que se mantenha uma postura atenta e reflexiva.

Ela também ressalta o papel do autoconhecimento na definição de objetivos. “Você pode ter um ano produtivo e ainda assim permanecer no mesmo cargo, mas com aprendizados significativos. O que importa é criar metas baseadas na sua própria régua, e não na expectativa externa. Isso reduz a ansiedade e aumenta a sensação de progresso real”, pontua.

Outro ponto abordado é a importância do apoio e da troca nesse processo. “Ter um cúmplice de aprendizagem faz toda a diferença. Compartilhar experiências, pedir conselhos e dividir dificuldades torna o caminho mais leve e sustentável. Aprender é natural para o ser humano, mas precisa ser um movimento ativo e no seu próprio ritmo”, completa.

A seguir, algumas dicas para manter o aprendizado saudável:

– Defina metas realistas e pessoais: foque no que realmente faz sentido para o seu contexto;

– Integre o aprendizado à rotina: veja os desafios diários como oportunidades de desenvolvimento;

– Tenha um cúmplice de aprendizagem: compartilhe experiências e peça ajuda para manter a motivação e o progresso;

– Respeite seu tempo: aprenda no seu ritmo, evitando comparações e metas irreais.

Sobre Clara Cecchini

Graduada em Artes Cênicas pela UNICAMP, com MBA em Bens Culturais: Cultura, Economia e Gestão pela Fundação Getúlio Vargas e formação complementada por cursos como Working with Complexity, na Schumacher College (Inglaterra), e Master in Learning Arches Design, realizado no Brasil pela escola dinamarquesa Kaospilot. Experiência de 20 anos em iniciativas de inovação e design ligadas às dinâmicas do conhecimento e especializada em educação corporativa e aprendizagem organizacional. Com passagens por lugares tão diversos quanto Ministério da Cultura, Banco Santander, Istituto Europeo di Design e consultorias e palestras para organizações como Supremo Tribunal Federal, Banco Central do Brasil, Votorantim, Petrobrás, Porto, entre muitos outros.