conviver com pessoas as quais divergimos é complicado

Empresas investem em programas voltados para inteligência emocional e engajamento para retenção de talentos

Metade das demissões registradas em 2024 teve origem em questões comportamentais, aponta o 6º Observatório de Carreiras e Mercado da PUCPR Carreiras. O levantamento mostra que a automação respondeu por 25% das demissões e a redução de custos por outros 25%. Para Kelly Amorim, gerente de desenvolvimento organizacional da Premium Essential Kitchen, empresa de refeições corporativas, esse dado reforça a tendência de que, além da competência técnica, habilidades de convivência e inteligência emocional são decisivas na manutenção do emprego.

“A pesquisa mostra que o mercado valoriza profissionais que unem competência técnica e habilidades para uma boa convivência. Um único indivíduo com atitudes negativas pode comprometer toda a equipe”, avalia.

Para enfrentar esse desafio, a companhia tem investido em boas práticas de desenvolvimento contínuo. Um dos exemplos é o programa “Bom dia, Realeza”, realizado semanalmente no restaurante-escola Domani, em São Paulo. O encontro nasceu da necessidade de criar um espaço leve, humano e inspirador no início da semana, em meio a um ambiente de alta demanda operacional. A iniciativa foi pensada para oferecer momentos de pausa, reflexão e conexão, estimulando tanto o bem-estar quanto a integração entre áreas e pessoas.

O objetivo principal do programa é fortalecer o clima organizacional e o sentimento de pertencimento dos colaboradores à Premium. Além disso, busca alinhar valores da empresa, gerar insights práticos para o dia a dia e estimular comportamentos positivos de liderança e convivência.

Diferente de iniciativas restritas à liderança, o programa é aberto a todos os colaboradores, independentemente da posição hierárquica. Assim, cada pessoa tem acesso a conteúdos que inspirem e tragam significado, promovendo uma cultura mais unificada. Os temas são escolhidos a partir dos valores e cultura da Premium, como ética, respeito, disciplina, criatividade, transparência e relacionamento, das necessidades atuais da operação, como engajamento, comunicação ou clima e de sugestões dos próprios colaboradores, colhidas por conversas, feedbacks e pelo Premium Social.

De acordo com Kelly, os impactos já são perceptíveis. “Tivemos melhorias na troca de experiências entre áreas, colaboradores mais à vontade para se expressarem em grupo e uma redução significativa de pequenos conflitos, substituídos por maior abertura ao diálogo.” Além disso, o espaço é colaborativo: os participantes podem sugerir pautas, compartilhar histórias e propor reflexões, aumentando o engajamento e o senso de coautoria.

Segundo a especialista, isso fortalece diretamente o clima organizacional e o pertencimento. “O ‘Bom dia, Realeza’ gera proximidade entre equipes, mesmo em unidades diferentes, estimula o orgulho de ser Premium e contribui para que os colaboradores se sintam vistos, ouvidos e valorizados, fortalecendo a identidade cultural da empresa.”

Kelly ressalta que a combinação entre o “saber fazer” e o “saber conviver” é determinante nas decisões de contratação e desligamento. “Como diz o ditado: contrata-se pelo currículo, mas demite-se pelo comportamento. Por isso, habilidades como inteligência emocional, empatia e respeito são cada vez mais valorizadas nos processos seletivos. Nossos recrutadores, por exemplo, são treinados para entrevistas por competência, que ajudam a prever o histórico comportamental do candidato.”

Em sua última análise, a especialista aponta que é preciso mais que dominar ferramentas ou processos. é preciso investir em autoconhecimento e responsabilidade nas relações interpessoais. “Atualizar conhecimentos e desenvolver novas competências é essencial para ganhar vantagem competitiva no mercado. Aqueles que mantêm o aprendizado constante conseguem se adaptar, identificar oportunidades e compartilhar conhecimento”, completa.